sábado, 29 de janeiro de 2011

O veneno do teatro

"Só os povos embriagados de História aceitam o despudor que é o grande teatro. E pagam um preço muito alto pela franqueza. Paixões medonhas, que tudo fazemos para exorcizar, por que conservá-las intactas como quem cultiva com amor um vírus mortal em carne viva no meio extremamente favorável que é uma peça? A catarse é uma pilhéria forjada por Aristóteles para desativar a peçonha segregada por Sófocles. GRANDE TEATRO NÃO PURGA, ENVENENA"

(Carvalhaes, personagem de Reflexos do Baile, de Antônio Callado, 1976).

Boca de Cena

Tenho vontade de dizer Eu te amo várias vezes ao dia
a frase vem à boca de cena da língua e volta
como um vômito que não se realiza.

aeroporto de Brasília, 16 de setembro de 2008.

Baú de guardados....

Uns textinhos que achei numa arrumação...sabe Deus de quando são...rs

Ensaiando a Partida

Dias sutis de energia morredoura
onde a partida é um convite irrecusável
como a morte
Desejo da distância em busca de novas paisagens
Deixar mais uma vez o centro
a página de livro já gasta e repetida
abandonar a última casca da cebola
dar adeus ao velho casulo e seguir a incerteza de novas asas.
O ninho dos meus alimentos parece querer murchar
Me pesam as lágrimas empedradas nas paredes da retina
Nada mais a dizer
já nem espero
talvez nem sonhe
tudo parece
absolutamente natural
como se o destino tecesse vasta manta
para um frio que não virá...
Mas, aqui estou e não há como negar
em busca do que não se sabe
Nas passagens da Lua
sigo a vida
em busca de
sentido.




Ensaiando o Salto
Clarice, sem nenhuma obscenidade
preciso de colo
já não posso com o peso de existir
essa montanha russa diária com subidas de vida e descidas demorte
desejos recorrentes
de um lugar
do amor que deixei
da casa que nunca tive
do amor que terei
O agora é tudo e nada
Tento subir diariamente a grande árvore
Lá do alto, em meio à vertigem de tantos galhos e a possibilidade do céu
Meu ser se enche de medo e vontade de estar novamente abraçado ao tronco
Talvez saltar para o vazio
É estar comigo.
Verdadeiramente só
E agüentar o peso da queda
Sem braços ou mãos que me façam ter sentido
Mas sempre o medo
Aqui do galho onde me encontro, tudo é reticências
Nem céu
Nem terra
Só busca
E resignação.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Solidão à disposição

Amor será dar de presente a outro a própria solidão? Pois é a coisa mais intima que se pode dar de si. Clarice Lispector

Nos braços de Caio...

"- Como se algo que estivesse perfeito.Eu insisto no perfeito, era assim: pouco antes da perfeição se cumprir. Perfeito, preparado para acontecer e, de repente, não aocntecesse. Não acontece. E logo depois, quando você ainda nem entendeu direito o que aconteceu, ou o que não aconteceu, ou porque deveria ter ou não ter acontecido, vem alguém de repente e te dá um soco no estômago. E a mão que daqui a pouco você tinha certeza que ia estar cheia - pronto! - está vazia de novo."

(Pela Noite - Caio Fernando Abreu)

"...me vês? e o que vês em mim? e em que essa visão te acrescenta ou diminui? te causa ódio ou amor ou que outra espécie de sentimento velado?" (Amor - Caio F.)

Prender a Respiração

Hoje eu queria conseguir escrever alguma coisa profunda, mas que fosse ao mesmo tempo simples, especial, capaz de mudar um sentimento, um caminho, um rosto.
Queria ser capaz de tocar com palavras, de me fazer entender inteiro, sem reticências e sem economia
Não sei se você já sentiu isso, um desejo imenso de ser apenas verdadeiro...por mais frágil que isso possa ser
Às vezes parece que é tão difícil ser a gente do jeito que a gente é, e isso fazer algum sentido
Fico aqui me perguntando por onde anda o Cazuza numa hora dessas em que me falta desmedida...
Onde é que está a Clarice, quando me falta a palavra certa
O Chico jogando bola e eu aqui sem saber o que fazer com tanto sentimento
Quando alguém entra em você, é porque ganhou a chave? Roubou?
Quando você está aberto entra qualquer coisa?
Quando entra, tem volta?
Você volta?
Vocês sabem cadê o Jonathan pra me dar sossego e chão em versos que parecem nascer sem dor?
Hoje amanheceu muito rápido, o sol estava ansioso e eu não pareço ter acordado ainda para esse dia.
Quando entra a gente sonha?
Como é que a gente faz quando o coração está uma bagunça só?
Me disseram que sentir muito, essa intensidade toda é coisa de mulherzinha...
Me disseram que é melhor não demonstrar tanto afeto
Começo a achar que afeto não entra
Que intensidade não cabe
Que é melhor desconectar, desplugar, status ocupado,
Começo a pensar que não sou desse tempo
Talvez não seja de tempo algum
Vontade de mergulhar fundo
Prender a respiração
Quando erguer a cabeça
Tudo passou
Porque tudo passa
Sempre
Ainda que fique
Faltou ar
Voltei
Nada passou
fiquei

Uma canção para os seus seios

Isso que você mostra
Isso que você esconde
Aquilo que você não vê
É amor...
É amor...
Vem chegando devagarzinho
Com medo de aparecer
Medo de te assustar
Com medo de te perder
E se eu pudesse te dizer alguma coisa
vem...
meu bem
É amor
É amor
Hoje me vesti de céu
esperando seu sol chegar
sem medo de te querer
sem medo de me mostrar.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Prece ao outro

A areia que nunca preencheu o espaço acolhedor de minhas mãos
acaba de escorrer para longe
Não creio ser possível perder o que nunca se teve, mas sinto assim.
As profecias estavam bêbadas, você nunca veio
Na lucidez tudo frio e distante, dois blocos de gelo dizem oi
Meu coração em estado de observação logo recebeu alta, mas teme a volta da febre
Essa doença é pensar na beleza do castelo de areia que você não aceitou construir
Esta noite, ajoelhado aos pés da cama, junte as duas mãos, erga seus belos olhos para o céu e faça um pedido por mim:
Deus, que ele me esqueça para sempre e o seu coração fique sereno como o luar de uma noite feliz.

Fev 2006

O amor vacila - leia imaginando Maria Bethânia declamando

"Eu sei que por trás desse universo de aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada. Nas xícaras sujas de ontem, o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que eu não suporto ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas eu quero você agora. Eu te amo pelas tuas faltas e pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas. Amo o teu jogo triste, as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a tua alegria. Mesmo fora de si, eu te amo pela tua essência, até pelo que você poderia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te banhado nas águas do equívoco. Eu te amo nas horas infernais e na vida sem tempo, quando sozinha bordo mais uma toalha de fim de semana. Eu te amo pelas crianças e pelas futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelos teus sonhos inúteis. Amo o teu sistema de vida e morte. Eu te amo pelo que se repete e que nunca é igual. Eu te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras. Te amo desde os teus pés até o que te escapa. Eu te amo de alma pra alma e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defenda, quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis quando o próprio amor vacila. "

Poema declamado pela Maria Bethânia em Maricotinha ao Vivo--

nada mais que palavras sacudidas no liquidificador de mim

O amor passou
a carona não chega
o tempo não ajuda
a chuva não caiu
o sol se acostumou
não sou mais seu astro
já não somos um eclipse
A via Láctea é, mais que nunca, uma faixa nebulosa que cruza o céu deixando um branco caminho de incertezas...
tenho saudades de nós
do Arpoador, melhor lugar para se começar um amor
não sei te dizer onde me perdi ou onde te deixei para trás
agora olho pro espelho e tento ver novamente o melhor beijo do mundo
De água e sal
de areia e pedra
de céu e sol
aqui, eu e você em busca de praia
ainda que não faça sol, pode ser sempre um novo começo de tudo
ou nada.

fev -2006

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Coisas soltas

Tem dias que eu queria ser música, me distribuir em notas e, todo som, habitar em ti.


As vezes um beijo faz nascer um jardim no peito da gente. Venha regar as flores!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Desabar água

Esses dias fiquei pensando muito sobre a minha forma de gostar...fiz uma biopsia no meu coração e descobri algo talvez grave...

Meu coração é como compotas de uma barragem...quando tocado...elas se abrem, racham...e aí é uma imensidão de água....só

Poema da ausência - PARA J e D...

Caminhando por ruas de ambição e desejo, sob um céu que quase se arranha.
Lá vão eles
Em busca de surpresa
Entre templos de consumo e poder
Lá vão eles
Com sede no peito e mãos de cumplicidade
Pequenos diante de tanto concreto
Imensos no vazio das possibilidades
Soprando balões de esperança pra enfeitar o céu
Não saberia dizer seus nomes, mas sei que os amo,
Talvez se chamem
Liberdade.

14-01-2011

Confissões em setembro de 2010

Tô aqui curtindo molho depois de arrancar 1 ciso...falta outro...
Tô aqui pensando se vou te encontrar mesmo devendo mundos e fundos de coisas que comprei pra casa nova onde, ainda, estou meio acampado
Tô aqui com vontade de sumir do mapa, da terra, do planeta, de mim
Tô aqui pensando se não devo ficar quieto aqui e cuidar da casa e pagar as contas
Tô aqui querendo ser outro, ter outra vida, jogar tudo pro ar e com medo
Tô aqui sem saber se fiz certo ou errado ao me declarar S de solteiro
Tô aqui querendo descobrir como cuidar dos afetos e das expectativas das pessoas em relação a gente
Tô aqui cansado do trabalho que tenho

Enquanto Brasília não dorme

Enquanto Brasília não dorme
Entre eles um espaço de mais ou menos 78km. É claro que no facebook estão bem mais próximos e trocam palavras com certa freqüência. Ele é meio tímido, na verdade, é preciso confessar, ele é bastante tímido, tem dificuldades até para responder comentários sobre seu status. Também pudera....muita exposição equilibrar suas palavras nessas linhas virtuais. Lembra que a professora de português do primeiro ano havia dito, “uma vez escrito, uma vez provado”. Apavora-se. Pensa de forma mais dramática ainda...Se eu escrever algo e ela não gostar? O medo de gerar um desapontamento parece a dor da primeira vez que caiu de bicicleta.
Seu jeito meio lento de ser, como se povoasse um mundo meio particular é capaz de gerar uma concentração meio especial que faz nascer de suas mãos desenhos inacreditáveis. Foi assim que decidiu se manifestar, respirou fundo, correu pro seu mundo e zack! Em algumas horas e lá estava ela, toda vestida de pop art. Cabelo rosa, blusa amarela, um fundo azul cheio de retículas e aqueles óculos que o tinha deixado cego de encanto e charme. Ela fica muito bem de pop arte! Pensou ele. Crítica, marcante, irreverente, ácida, cheia de cor, o marco da modernidade para a pós-modernidade...não faltavam adjetivos relacionados. Quando se deu conta da viagem que lhe tirava o chão...sentiu avermelhar-se a face e resolveu descer.
Ela, uma pouco mais velha que ele, uma pose de garota segura, inteligente, moderna e descolada. Exigente com música (não suporta reggae) , exigente com livros (aparece com autores que você nem sabe pronunciar o nome), exigente com respostas (seja por e-mail, telefone ou pessoalmente), exigente com homens, exigente com mulheres, exigente com ela. Tão exigente que às vezes se cansa e tem vontade de fazer algo quase não-civilizado como comer com as próprias mãos pra poder se sentir bem livre. Isso tudo somado ao seu jeito espontâneo de falar, mover as mãos, as roupas super estilosas, os comentários inteligentes dos milhares de blogs que acompanha e aquele ar intelectual que uns atribuem aos óculos, outros ao corte de cabelo apelidado de “sapatão sofisticada”, fizeram a garota de baixa estatura, guardadas as devidas proporções ser, para ele, quase como uma Madona é para os gays.
Nele fascinava as mãos habilidosas, o olhar de quem foge para dentro e, claro, dos pés a cabeça aquela roupagem tipicamente nerd que da vontade de beijar a pessoa, botar no colo, fazer carinho...e tantas outras coisas que ela já imaginava, ou seria fantasiava?
A iminência de um encontro pairava no ar. Ela adiou o quanto pode, talvez por insegurança, por não saber o que vestir, onde colocar as mãos, se os pais dele estariam em casa ou não...por medo de achar bom, por medo de achar ruim e se arrepender de ter ido. E, você acaba de descobrir um de seus segredos. Isso mesmo, ela não era tão segura como podia parecer. Alguém é? Ele mandou o desenho pra ela, que amou se ver toda trabalhada na pop arte. Orgulhou-se, mandou para os amigos, foto do perfil, aquilo encheu de cor a sua página e talvez tenha até transbordado da rede.
O dia combinado chegou, ela se arrumou, pensou novamente me não ir. Foi até lá fazendo cafuné na ansiedade. Ele mora no Vale do Amanhecer, lugar místico, bastante eclético que enche os olhos de qualquer um. O dela brilhava só de pensar. Na parada de ônibus quem respirava fundo era ele, dizendo pra si mesmo....está tudo bem, vai dar tudo certo e traçando mil estratégias sobre o que dizer, como agir...O ônibus pára. Ela desce. Eles se encontram. Um tentando amenizar a alegria exagerada mais que o outro. Caminham até a casa dele. Os pais, mais envolventes do que se esperava, tecem conversas divertidas e cativam os exigentes ouvidos dela. Seus olhos se detêm por alguns minutos no altar cultivado pela mãe, nada pergunta, guarda a imagem. Após o almoço, onde olhares se alternavam aos movimentos dos talheres, conversas descontraídas... o aguardado momento de privacidade.
O quarto não era nem grande nem pequeno:
- Nossa, você tem uma cama de casal no seu quarto?!
- É...(intenção de segurança)...as vezes posso precisar trazer...
- (alguns segundos de silêncios quase constrangedores)
Ele liga o DVD para assistirem aos 02 filmes especialmente escolhidos, depois de intermináveis dúvidas. Ela vê com o olhar de curiosidade e entusiasmo. Mentira. Ela já tinha visto os filmes, mas...queria manter o encanto do encontro, ou seria o encontro encantando? Ele pensava que tinha acertado. Durante o filme, imagens, respirações mais profundas e lentas, corpos que se mexem, um o outro olhar. Um olhar deliciosamente mais demorado, como aqueles que desejam revelar um mundo. Mãos que quase se tocam. Comentários sobre o filme, ele diz que a personagem principal é bem ousada e cheia de iniciativa. Ela pensa que talvez ele esteja dizendo aquilo pra ela. Ela interpreta cada gesto e até as pausas dele. Ele espera por não saber como tocá-la . A boca saliva, os lábios secam. Mais um pouco de ar. Termina o filme.
Ele vai com ela até a parada de ônibus, os dois pensam que poderão conversar um pouco mais enquanto o temido veículo não chega. Talvez nasça até um beijo na hora de dizer tchau. Pura ilusão, o ônibus nunca havia chegado tão rapidamente, ele pede para parar, ela entra. Um olhar, ela vai.
Ele refaz o caminho de casa re-fazendo o encontro e talvez dirigindo a si mesmo em cada situação. Ele a beija profundamente e na comunhão de ar entre duas bocas, imagina de leve como uma lagarta se sente ao virar borboleta ou como uma borboleta se sente no primeiro vôo. As borboletas têm vida curta, às vezes tudo acontece em um único dia.
Num ônibus comum e desconfortável como esses que existem em qualquer cidade, ela está sentada, a janela é como a moldura de um quadro para o mundo lá fora e para a vida aqui dentro. No iPod toca Virginia Moon na voz de Norah Jones.
Brasília anoitece, como de costume.

SIM Sou um daqueles

SIM
Sou um daqueles que se apaixona só de olhar
Sou um daqueles que rói unha
Sou um daqueles que tem medo de chegar
Sou um daqueles que não sabe fazer de conta que não está interessado
Sou um daqueles que acredita que você é um presente
Sou um daqueles que pede bença quando liga pra mãe
Sou um daqueles que adora sorvete
Sou um daqueles que acha que a arte muda o mundo
Sou m daqueles que se sente inseguro
Sou um daqueles que precisa de poesia
Sou um daqueles que corta o dedo quando vai cozinhar
Sou um daqueles que trabalha por amor
Sou um daqueles que chora vendo o filme da Edith Piaf
Sou um daqueles que gosta de ser berçário de ideias
Sou um daqueles que precisa trabalhar
Sou um daqueles que guarda muita coisa
Sou um daqueles que não arruma a cama de manhã
Sou um daqueles que nem sempre consegue falar tudo que sente
Sou um daqueles que tira meleca do nariz
Sou um daqueles que tem gastrite
Sou um daqueles que gosta de olhar a Lua cheia
Sou um bobo
Sou um exagerado
Vai encarar?